O corpo e suas dimensões: um convite para um olhar além

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O corpo como matéria biológica, é concreto, objetivo, visível, nas dimensões micro/macro celular, química e fisiológica. No entanto, transcende a sua definição tangível, tendo sua complementariedade em sua definição subjetiva. Amparo, Magalhães e Chatelard (2013), apresentam neste sentido, a noção de corpo psicológico. Para estas autoras, o corpo como matéria psicológica constitui um dos elementos envolvidos com a noção de sujeito psíquico. Este se articula com a linguagem, tendo a função de promover a mediação entre “o sujeito e seu mundo interno com o sujeito e o mundo externo”, diferente do corpo biológico que tem a função de servir enquanto massa bruta originária de sensações e expressões cinestésicas voltadas ao mundo externo.

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Assim como a noção de corpo transcende sua dimensão biológica, a noção de imagem de corpo, também transpassa a sua dimensão física. Para essa dimensão palpável, Françoise Dolto (2008) dá o nome de esquema corporal, já para a dimensão psicológica, traz o conceito de imagem do corpo, como sendo uma imagem que é mutável a partir das relações tanto interpessoais quanto com seu próprio esquema corporal que com o passar do tempo também sofre modificações. Para ela, as mudanças ocorridas no esquema corporal, que são geradas pelos ciclos biológicos em combinação singular com os significados psicológicos desenvolvidos, promovem alterações na imagem corporal.

Considerando a plasticidade e dinâmica a qual está sujeita essa imagem do corpo psicológica, que consequências a identidade feminina sofre, a partir das relações construídas culturalmente?

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O corpo feminino tem uma história, e como toda história, conforme propõe Dolto, se transforma com o tempo. Do século XIX até os dias atuais, pensando no Ocidente, esse corpo mutável passou por uma importante modificação. No século XIX, segundo Foucault (1984), a mulher tinha seu corpo voltado ao seu poder reprodutivo com o intuito de domesticar e regular os papéis femininos já que se vivia em uma era patriarcal. Cabia a mulher o cuidado com a casa, os filhos, e a dedicação ao marido, ocupando um espaço privado, praticamente recluso.

No século XX, a mulher ocidental passou a ter acesso a novas posições subjetivas, novos status sociais, levando consequentemente há uma metamorfose corporal. A repressão social do feminino aos espaços privados diminui, dando oportunidade da ocupação dos espaços públicos. Essa abertura do lar e seu contexto familiar ao mundo exterior permitiu à mulher a escolha de outros papéis sociais e o desfrute de sua sexualidade, trazendo influências a construção de seu corpo.

Hoje, as significações relacionadas ao feminino são várias, ultrapassando seu poder reprodutivo. Vive-se uma época de franca ascensão do empoderamento feminino, trazendo os diversos papéis que antes eram ocupados pela mulher, como foco de questionamentos e modificações. Há uma pluralidade de sentidos e expressões na mulher moderna que resultam em novos significantes para a reformulação de sua autoimagem.

Daí, vem a importância de olhar para todo o contexto histórico vivenciado pela mulher e de voltar nossa atenção à saúde, transcendendo sua noção biológica, e chegando a noção emocional que influi substancialmente na integralidade do que hoje é ser mulher.

Fica então o convite: como anda sua saúde emocional?


Fernanda de França Lorenção – Psicóloga Clínica
CRP 06/123946

Referências Bibliográficas:
AMPARO, D. M.; MAGALHÃES, A. C. R.; CHATELARD, D. S. O Corpo: Identificações e Imagem. Revista Mal-estar e Subjetividade – Fortaleza – Vol. XIII – Nº 3-4 – p. 499 – 520 – set/dez 2013.
DOLTO, F. A imagem inconsciente do corpo. Tradução de Noemi Moritz e Marise Levy. São Paulo: Perspectiva, 2008.
FOUCAULT, M. História da sexualidade 1. A vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1984. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 1991.

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